No dia de ontem (14/04), ouvi e participei de uma rápida conversa entre duas alunas minhas, do primeiro período do Curso de Arquitetura e Urbanismo, já no horário da saída. De modo muito esclarecido, a aluna argumentava com a colega que "quem faz o professor é o aluno/turma", ou seja, a resposta do professor e o modo dele conseguir passar, ensinar e fazer apreender o conteúdo, em grande medida, depende da qualidade do interesse da turma e seus alunos.
Nesses quase cinco anos em que estou lecionando como professor do ensino superior, percebo como turmas diferentes reagem ao mesmo conteúdo de forma também diferente. É uma constatação que não é somente minha, logicamente!
Nas reuniões semestrais ou mesmos nos treinamentos oferecidos pelas instituições de ensino, muito é cobrado do professor quanto à qualidade de seu ensino, mas pouco ou quase nada, é discutido sobre a qualidade ou interesse dos jovens que adentram o ensino superior. Esta discussão, quando muito, fica restrita aos corredores, entre professores e termina tão rapidamente como começou, já que o entendimento e compreensão desse fato, foge do escopo do professor e de seu conteúdo programático.
Eu sei quem sou, da onde vim e para onde desejo chegar. Mas todos os anos, cada leva de novos alunos são pura abstração e incógnita, que estes mesmos conteúdos não conseguem cobrir. Percebo que nesses mesmos quase cinco anos, que minhas turmas, já que dou aula para os primeiros períodos, e invariavelmente, abro o semestre dando sua primeira aula (daí, o tamanho de minha responsabilidade), são mais ou menos heterogêneas, e em alguns casos, até mais homogêneas, por sinal. Fato este que me obriga a ser rápido o suficiente para adaptar meu conteúdo a cada turma/disciplina.
Isto é um lado da questão. E eu só posso falar por mim. O outro, é o lado da imprevisibilidade que engloba a qualidade do alunado que senta nos bancos/pranchetas do ensino superior. A formalização dos conteúdos programáticos inclusos nos planos de ensino, não dá a medida exata da multiplicidade dos alunos de uma instituição de ensino superior.
A formação pregressa desses alunos, sua situação familiar, social, econômica e política é uma incógnita quase eterna, que só vai se delineando ao longo dos anos. E isso só acontece se você tiver uma relação mais estreita com seu alunado, de forma à conhecer todos. O que, por fim, se torna quase que uma tarefa impossível.
Neste meio tempo, os alunos vão se organizando em grupos, com maior ou menor afinidade (de todos os tipos e matizes), que se ajudam ou se repudiam (nos casos mais extremos); e alguns alunos, naturalmente, se tornam líderes para o bem e, até para o mal. Esta última, por sinal, é uma atitude que, para mim, soa muito estranha, já que fico imaginando o que passa pela cabeça de um aluno vir a uma faculdade para criar discórdia, enfrentar o professor, atrapalhar o andamento de uma aula, e, por conseguinte, de todo um semestre, pelo simples bel prazer de ser capaz de fazer isso?
Caráter é algo que não se ensina em uma faculdade. No máximo, se molda e se orienta para a vida profissional.
Os professores acabam tendo seu papel de referencial cobrado diariamente, sendo postos em cheque nas mais variadas situações. Mestres da vida e do ensino, por mais humanos e imperfeitos que sejam. Por fim, minha aluna do primeiro período tem razão: uma boa aula não depende somente do professor, mas também, e principalmente, do aluno, seu interesse e vontade de aprender e dialogar com o professor. Um boa aula se resume a isso: diálogo!