quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Megalópolis


Em 06/11/2024:

Ontem fui assistir "Megalópolis - uma fábula", dirigido, roteirizado, financiado e distribuído pelo próprio Francis Ford Coppola. Não consegui dormir direito depois de ver o filme...custei à dormir porque eu trouxe ele comigo. Os bons filmes ficam com você por um bom tempo, como um bom livro, uma boa comida, um lugar...eles se incorporam à você, que é o primeiro passo para fazerem parte de suas memórias. É um filme denso, complexo, rápido na edição e ao mesmo tempo muito truncado em alguns momentos, beirando à estranheza.
Sou crítico de cinema ou um cinéfilo? Não! Sou só um arquiteto, e já que o personagem principal do filme é um arquiteto, por sinal, um "gênio da raça" pois além de desenhar com lápis e borracha seus sonhos-projetos também é inventor de um novo material que mudará o mundo e a humanidade, quase por mágica, o que, por fim, me dá o direito de ser aqui, um crítico, de cinema, pelo menos... A história se passa em uma Nova Iorque, centro hedonista de um Império que não é mais a América, e sim, uma outra Roma.
Nova Iorque agora é Nova Roma, as pessoas nascidas não tem mais nomes anglo-saxões e sim, latinos (Cesar, Glodio, Crassus, Julia...). Assim começam as hiper metáforas do filme - metáfora sobre metáfora, sobre metáfora -, o que te faz demorar a entender onde você está e o que quer o diretor. Ele quer muito, e você que se vire pra entender, com sua muita ou pouca erudição.
Essa Nova Roma-Iorque é disputada por dois homens de visões de mundo que se conflitam: o atual prefeito Cícero, pragmático e de visão racionalista sobre os problemas e meandros do poder da cidade e, Cesar Catilina, Arquiteto e Urbanista, o poderoso chefe da Autoridade do Design que tudo pode na cidade, inclusive implodir prédios, para dar lugar aos seus projetos-sonhos. Ambos tem o poder nas mãos para mudar a cidade e até o mundo, no caso de Catilina, com seu Prêmio Nobel pela descoberta desse novo material - o megalon, material sintético, quase vivo que se adapta aos desejos - e até corpos - de qualquer um. Ambos disputam o poder da cidade e dos sonhos - ou mentes - da população. Razão x emoção, loucura x afirmação. Uma ode ao cinema x crítica ao cinema. Tudo ao mesmo tempo. Tempo: "Artistas nunca perdem o controle do tempo", como diz o Arquiteto Cesar.
O filme de Coppola é tudo menos esquecível. Há ali, muito pano pra manga quanto aos porquês das decisões cinematográficas do diretor. Não é um filme para uma única sessão....com certeza, você terá que voltar mais vezes para averiguar se você entendeu realmente o que viu.

 

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