quarta-feira, 9 de outubro de 2024

27 anos de formado.

 


Hoje, faço 27 anos de formado. Não tive condições físicas, morais e psicológicas para comemorar meus 25 anos, em 2022, e 2023 passou do mesmo jeito ou pior.... Foram anos ruins esses da pandemia e da pós. Tive muitas perdas pessoais e profissionais que me testaram ao máximo. Só não aguentei tudo sozinho porque descobri ou redescobri o valor da verdadeira amizade, dos verdadeiros amigos que dedicaram um tempo para me ouvir. A eles dedico uma parte do que me mantém em pé hoje. Descobri, tardiamente, a falsidade e a inveja do meu meio, que até então, passava longe de mim. Ouvia falar, testemunhei nos outros, mas não imaginava o poder destrutivo que ela teria em mim. Estou de pé, realmente, por conta, além dos amigos, dos meus gatos que não tem mais ninguém para olhar por eles e pela série de projetos arquitetônicos e urbanos em que estava envolvido, e que, direta ou indiretamente, dependiam de mim para decisões criativas, gerências ou definições de projeto que saíssem de minha cachola. Cachola essa que precisava estar focada em tudo ao mesmo tempo, sem perder a objetividade. Isso tudo me segurou em terra.

Essa reconstrução, essa minha reestruturação do que sou e sempre quis ser, está sendo demorada. Cheguei, aos 52 anos, a um lugar que sempre almejei, que era fazer grandes projetos. Foi um processo de quase 20 anos, duro, cheio de percalços que parecem que não cessam, te testando fisicamente e mentalmente a cada dia. Ainda estou de pé. Quase caí, mas parece, depois que levei uma atropelada numa ciclovia aqui de Vitória, poucos meses atrás, que estou aprendendo a cair e me levantar com poucos ferimentos. Até ontem não me preocupava com tudo o que tinha feito e quando levantei em m² e vi a cifra em milhões, tomei um susto e muita coisa ficou clara para mim, sobre o que falei da inveja e falsidade. E isso só piorou o sentimento de derrota que vem me seguindo nos últimos anos. Quem conviveu comigo, trabalhou ao meu lado ou foi meu aluno, sabe que não esmoreço fácil, e poucas são as coisas que me derrubam (tirando aí uma gripe, uma virose ou coisa que o valha). Sou conhecido como chato, reclamão, crítico, nervosinho, blá-blá-blá e dizem até que é coisa do meu signo, e isso seria até verdade, se eu acreditasse em algo desse tipo. Não sei se o sentimento de derrota que tem me seguido nesses últimos anos tem piorado esse meu lado, independente das vitórias por que tenho passado, muito ligadas a vários projetos de grande porte que fiz e que estão sendo transformados em obras.

Sempre fui um arquiteto ligado nos dois lados da vida profissional: a teoria e a prática. Ambas, para mim, sempre se retroalimentaram ao longo de minha vida profissional. Não faço projeto sem que tenha um conceito e todo conceito é testado, avaliado e retrabalhado no projeto e em obra construída, até para ser questionado por mim mesmo, mais a frente. Por isso o valor que dou tanto a minha vida do dia a dia do ato de projetar como o meu lado acadêmico, estudando ou, ensinado o que sei e o que aprendo no processo. Preciso, por força do que sou, pôr em prática o que estudei e estudar o que construí. Sempre fui inquieto. Dizem que é por conta de minha ansiedade desde criança (meus dedos ruídos são provas, e olha, que no último ano venho batalhando pra controlar o roer de dedos e até estou tendo menos vergonha de mostrar os dedos por aí....hum!). Mas se eu deixar de ser inquieto deixo de ser eu. Não vou dopar o que, de certa forma, alimenta minha criatividade. Mas, por outro lado, o que não deixa de ser engraçado, é a eterna vontade que tenho de me encostar num canto e ficar quieto, de forma simples e tranquila. Nunca fui um cara e nem um cara-arquiteto ganancioso. Não acumulei posses e nem bens na vida, além de minha biblioteca e gibiteca e meus materiais de desenho. Quer me ver feliz é no meio dos meus livros e rabiscando alguma coisa, sem pretensão nenhuma. É verdade que se os milhões de m² que tenho de projetos realizados tivessem gerado R$1,00 por m², eu seria hoje, literalmente um milionário. Infelizmente a arquitetura não me deixou rico, porque também esse não era e nunca foi meu foco. Pago as contas, compro a ração dos gatíneos e ainda sobra um troco para a cerveja, vinho, livros, gibis, cinema, um bom café ou chá, coisas simples e sem exageros da vida. 

O que sempre quis, mesmo, de verdade, sem falsa modéstia, é deixar um legado por onde passei projetando. Minha riqueza é ver meus projetos sendo construídos. É ver meus ex-alunos trabalhando, estudando, virando mestres, doutores, é ver os colegas felizes como eu em seus projetos e obras, é ver a rua movimentada, o comércio cheio de gente no meu bairro, é andar como um desconhecido, flanando no meio da multidão de uma obra sua e ouvir os elogios com um sorrisinho maroto no canto da boca. Ser arquiteto é isso, é ser feliz com a felicidade dos outros com o que você constrói. É...acho que isso! Valeu! Até 2027, quando completo 30 anos de formado., Espero estar completo até lá! 

Nenhum comentário:

Postar um comentário