Em 20/06/2015:
Em recente artigo publicado em A Gazeta, na seção
Opinião de 17 de Junho do corrente ano, falou-se da “Morte da cidade”. Não, não...
A cidade não está morta, e sim, viva e pulsante, e cheia de contradições.
Engana-se o colega arquiteto ao declarar a morte do urbanismo pela preservação
ou criação de áreas verdes, em detrimento do crescimento urbano. Ambas, nos
dias atuais, são essenciais à vida urbana, ou urbanidade que tanto defende o
colega.
Até a Idade Média, as cidades europeias que
posteriormente nos originaram culturalmente e urbanisticamente, tinham a
natureza como elemento estranho à vida urbana, misteriosa, espaço extramuros do
temor e do sagrado. A descoberta do Novo Mundo das Américas traz um novo olhar
sobre a natureza: do Jardim do Éden bíblico, para onde o homem, por direito,
deveria retornar. Este retorno foi, primeiramente, pela conquista, seguido do
domínio e, posteriormente, do controle e exploração. Nos dias atuais, esta sequência da preponderância do homem sobre a natureza alcançou níveis
alarmantes de degradação do meio ambiente, fato exaustivamente debatido nas
últimas décadas.
O arquiteto italiano Renzo Piano, em seu livro Renzo Piano: sustainable architectures =
arquitecturas sostenibles, de 1998,
defende que a cidade é, na verdade, uma
segunda natureza, própria do homem, mas indissociável da primeira e originária.
A cidade como segunda natureza só é possível se ela for uma interpretação da
primeira, segundo o autor. Preservar o ambiente não atrapalha a urbanidade. A
natureza completa a cidade e sua arquitetura; dá sentido a existência de ambas,
já que a natureza foi sua origem, historicamente.
O que mata a cidade são planos diretores urbanos
que não entendem as peculiaridades de cada região, de cada cidade e seus
lugares. Que transformam a cidade em um mapa plano, objeto sem fisicalidade,
passível de ter zoneamentos copiados de um plano a outro, de forma
indiscriminada e irresponsável. A natureza, ou o meio ambiente natural e
humano-construído está além dos planos diretores. É parte de nossa história
urbana, de nossa origem como humanos e deve ser preservada para que possamos
chamar nosso lar de cidade.
Vista, em um dia nublado, da Grande Vitória, a partir do mirante do bairro Conquista (2005) |
Há mais coisas matando a cidade do que os planos diretores, o capital tomando as rédeas da urbanização à revelia dos planos e da participação social (as lutas em favor dos parques e espaços verdes no Brasil: Parque Augusta (SP); Parque Jardim América e Fica Ficus (BH), e mesmo a memorável luta dos turcos em favor do Parque Gezi - todas lutas contra o capital rentista promotor de ppps. Mas com certeza concordo contigo contra aquele com quem você antagoniza, a cidade não morre por causa dos espaços verdes. Ebenezer Howard, Patrick Gueddes, Frederick Law Olmstead, Camillo Sitte, para citar só os do Século XIX, nele!
ResponderExcluir