Em 21.04.2025:
O desenho é a escrita da Arquitetura.
O traço é a forma.
A composição, o meio.
Um eu da alma... Pequenos textos, poesias, pensamentos autorais de arquitetura, cidade, outros... by Fabiano Vieira Dias
Em 21.04.2025:
O desenho é a escrita da Arquitetura.
O traço é a forma.
A composição, o meio.
O Brutalista
Em 04/03/2025
Em menos de seis meses, do final de 2024 ao começo de 2025, tivemos nos cinemas, o lançamento de dois filmes que tem como personagens principais, Arquitetos. Não sou nem de longe um estudioso do cinema, e por isso posso me dar ao direito de errar ao dizer que não me lembro de ver isso acontecer anteriormente (mas me lembro de no começo dos anos 1990, de ver três novelas da Globo, em horários consecutivos, com personagens Arquitetos em suas tramas principais). No final de 2024 tivemos o teatral "Megalópis", do consagrado diretor Francis Ford Coppola. Já agora, em março de 2025, o dramático filme do diretor Brady Corbet,"O Brutalista".
São filmes com abordagens muito distintas: em Megalópolis, Copolla literalmente desenha um personagem-Arquiteto como um ser quase que divino, de poderes de parar o tempo ao seu favor, para que sua genialidade se apresente. O Arquiteto-Deus-criador constrói uma Nova Roma sobre os escombros cataclísmicos de uma Nova Iorque decadente física e moralmente, num afã de ser a Arquitetura e o urbanismo associados a ela (disciplinas indissociáveis, ao bem da verdade, incluindo aí, o paisagismo), a salvadora moral e ética de algo que extrapola o próprio escopo de um Arquiteto. Tudo é teatralizado, das atuações à genialidade do Arquiteto que descobre um novo composto que munda o mundo e a vida, tendo a cidade e sua Arquitetura (a antiga decadente sobreposta pela nova, genial) como o mote do teatro da vida, e que tem na política (e nos nomes dos personagens de origem greco-romana) o enredo dramático por detrás dessa (re) construção urbana-moral-ética.
Em "O Brutalista", a megalomania de Brady Cobert está no tempo do filme: 3h 35m de duração, com um intervalo proposital de 15 minutos, para uma passada no banheiro (dependendo do cinema e do banheiro, quase não dá tempo). Ao contrário de Coppola, Cobert se atém aos dramas existenciais de um arquiteto profano, falho de caráter e filho de uma Era de Arquitetos-Heróis (Bom, não deixa de ser também aí um tanto teatral, a figura de um Arquiteto herói epónimo, aquele que funda - e protege - uma nova cidade). O personagem de László Toth, Arquiteto judeu de origem húngara magistralmente interpretado por Adrien Brody (Oscar 2025 de melhor ator), é no fundo, o amálgama de vários Arquitetos que imigraram ou existiram nos EUA, que nós, Arquitetos enquanto ainda estudantes ou interessados pela história da Arquitetura e do Urbanismo, identificamos rapidamente ou, ao longo do filme. Vi ali, de início uma referencia ao Arquiteto estoniano Louis Isadore Kahn, que teria, por sinal, aproximadamente, a mesma idade de Lászlo no filme, além de ser imigrante e judeu por origem. Ambos (o ficcional Lászlo e o real Khan) forma marcados em suas carreiras por suas grandes obras por volta da meia idade, e como mostra o filme e em correlação com a realidade tanto de Khan como de muitos Arquitetos, o momento mais profícuo de sua vida profissional. Para muitos, é na meia idade que o Arquiteto está maduro o suficiente para apresentar ao mundo suas ideias e defendê-las (o filme toca de certa forma nisso em uma passagem da primeira parte) e tendo a concordar com isso, pessoalmente. Diploma não faz ninguém um arquiteto, mas o tempo acumulado.
Vi ainda no personagem de Lászlo a figura do Arquiteto Frank Lloyd Wright, pelo drama de sua vida e sua personalidade um tanto difícil. Personalidade difícil faz parte de qualquer um ligado à criação artística. Defender o que cria é quase que condição sine qua non de um Arquiteto que pensa a Arquitetura além das quatro paredes, um teto e o piso. Para Khan Arquitetura era luz, para Wright era a expressão orgânica de um espaço, para Lászlo, poesia em concreto armado, um tanto Oscar Niemeyer, para puxar mais um exemplo. O Lászlo do filme é um Arquiteto Brutalista, antes mesmo dessa Arquitetura virar uma tendência Pós-modernista. Formado pela Bauhaus Dessau, como ele mesmo fala no filme, ele é de uma geração de Arquitetos Modernistas (a segunda, citando aqui Montaner) que reinterpretam a Arquitetura Moderna, ainda heróica dos pioneiros da primeira geração, mas que materializam as formas geométricas em um contexto histórico (às vezes ambiental em suas pré-existências, como foi a obra do italiano Ernesto Nathan Rogers, ou do brasileiro Paulo Mendes da Rocha - este já da terceira geração, segundo o mesmo Montaner).
Lászlo tem em sua Arquitetura Brutalista, uma arquitetura de transição do modernismo para o que foi denominada de Arquitetura Pós-Moderna (não é à toa a cena final....), um marco de um outro momento da história da Arquitetura, onde a história vivida e sofrida (no caso dele, um judeu sobrevivente do holocausto) faz parte das suas paredes maciças de concreto armado. Aqui volto a uma outra referencia, um pouco mais recente, a do Arquiteto polonês Daniel Libeskind, e seu Museu Judaico de Berlim (na hora que vi o projeto de Lászlo que marca o inicio de sua carreira americana - que já existia antes dos EUA - me veio a imagem do museu...).
O filme é uma ode ao Arquiteto criador, mas, profano, humano, falho e idealista. Contraditório como qualquer um que está em construção histórica. A vida é uma construção. É um acúmulo de histórias, que, de vez em quando, é expressa em Arquitetura.
Toda vez que eu me sinto sozinho (e não foram poucas vezes, nesses últimos anos) eu pedalo e desenho. Pedalar tem me mantido em contato com o mundo real, objetivo. Desenhar, além disso, tem me trazido novas amizades e amores. As amizades se fixam, mas os amores se vão. Por mais que os desenhos sejam um processo, os amores que eles me trazem parecem instantâneos. Amores devem ser iguais aos desenhos, um processo de conhecimento do outro, daquilo e daquele que se percebe, do sentir e amar no processo. Amar não é um ato racional como o de pedalar mecanicamente, mas é o mesmo ato de pedalar, agora sentido o mundo ao seu redor.
Hoje, faço 27 anos de formado. Não
tive condições físicas, morais e psicológicas para comemorar meus 25 anos, em
2022, e 2023 passou do mesmo jeito ou pior.... Foram anos ruins esses da
pandemia e da pós. Tive muitas perdas pessoais e profissionais que me testaram
ao máximo. Só não aguentei tudo sozinho
porque descobri ou redescobri o valor da verdadeira amizade, dos verdadeiros
amigos que dedicaram um tempo para me ouvir. A eles dedico uma parte do que me
mantém em pé hoje. Descobri, tardiamente, a falsidade e a inveja do meu meio,
que até então, passava longe de mim. Ouvia falar, testemunhei nos outros, mas
não imaginava o poder destrutivo que ela teria em mim. Estou de pé, realmente,
por conta, além dos amigos, dos meus gatos que não tem mais ninguém para olhar
por eles e pela série de projetos arquitetônicos e urbanos em que estava envolvido,
e que, direta ou indiretamente, dependiam de mim para decisões criativas, gerênciais
ou definições de projeto que saíssem de minha cachola. Cachola essa que
precisava estar focada em tudo ao mesmo tempo, sem perder a objetividade. Isso
tudo me segurou em terra.
Essa reconstrução, essa minha reestruturação
do que sou e sempre quis ser, está sendo demorada. Cheguei, aos 52 anos, a um
lugar que sempre almejei, que era fazer grandes projetos. Foi um processo de quase
20 anos, duro, cheio de percalços que parecem que não cessam, te testando fisicamente
e mentalmente a cada dia. Ainda estou de pé. Quase caí, mas parece, depois que
levei uma atropelada numa ciclovia aqui de Vitória, poucos meses atrás, que
estou aprendendo a cair e me levantar com poucos ferimentos. Até ontem não me preocupava
com tudo o que tinha feito e quando levantei em m² e vi a cifra em milhões,
tomei um susto e muita coisa ficou clara para mim, sobre o que falei da inveja e
falsidade. E isso só piorou o sentimento de derrota que vem me seguindo nos
últimos anos. Quem conviveu comigo, trabalhou ao meu lado ou foi meu aluno,
sabe que não esmoreço fácil, e poucas são as coisas que me derrubam (tirando aí
uma gripe, uma virose ou coisa que o valha). Sou conhecido como chato, reclamão,
crítico, nervosinho, blá-blá-blá e dizem até que é coisa do meu signo, e isso
seria até verdade, se eu acreditasse em algo desse tipo. Não sei se o
sentimento de derrota que tem me seguido nesses últimos anos tem piorado esse
meu lado, independente das vitórias por que tenho passado, muito ligadas a vários
projetos de grande porte que fiz e que estão sendo transformados em obras.
Sempre fui um arquiteto ligado nos dois lados da vida profissional: a teoria e a prática. Ambas, para mim, sempre se retroalimentaram ao longo de minha vida profissional. Não faço projeto sem que tenha um conceito e todo conceito é testado, avaliado e retrabalhado no projeto e em obra construída, até para ser questionado por mim mesmo, mais a frente. Por isso o valor que dou tanto a minha vida do dia a dia do ato de projetar como o meu lado acadêmico, estudando ou, ensinado o que sei e o que aprendo no processo. Preciso, por força do que sou, pôr em prática o que estudei e estudar o que construí. Sempre fui inquieto. Dizem que é por conta de minha ansiedade desde criança (meus dedos ruídos são provas, e olha, que no último ano venho batalhando pra controlar o roer de dedos e até estou tendo menos vergonha de mostrar os dedos por aí....hum!). Mas se eu deixar de ser inquieto deixo de ser eu. Não vou dopar o que, de certa forma, alimenta minha criatividade. Mas, por outro lado, o que não deixa de ser engraçado, é a eterna vontade que tenho de me encostar num canto e ficar quieto, de forma simples e tranquila. Nunca fui um cara e nem um cara-arquiteto ganancioso. Não acumulei posses e nem bens na vida, além de minha biblioteca e gibiteca e meus materiais de desenho. Quer me ver feliz é no meio dos meus livros e rabiscando alguma coisa, sem pretensão nenhuma. É verdade que se os milhões de m² que tenho de projetos realizados tivessem gerado R$1,00 por m², eu seria hoje, literalmente um milionário. Infelizmente a arquitetura não me deixou rico, porque também esse não era e nunca foi meu foco. Pago as contas, compro a ração dos gatíneos e ainda sobra um troco para a cerveja, vinho, livros, gibis, cinema, um bom café ou chá, coisas simples e sem exageros da vida.
O que sempre quis, mesmo, de verdade, sem falsa modéstia, é deixar um legado por onde passei projetando. Minha riqueza é ver meus projetos sendo construídos. É ver meus ex-alunos trabalhando, estudando, virando mestres, doutores, é ver os colegas felizes como eu em seus projetos e obras, é ver a rua movimentada, o comércio cheio de gente no meu bairro, é andar como um desconhecido, flanando no meio da multidão de uma obra minha e ouvir os elogios com um sorrisinho maroto no canto da boca. Ser arquiteto é isso, é ser feliz com a felicidade dos outros com o que você constrói. É...acho que isso! Valeu! Até 2027, quando completo 30 anos de formado. Espero estar completo até lá!
Em 09.08.2024:
O TOMBO
Dizem que a gente cai para aprender a se levantar
Metáfora engraçada....
Alguns tombos na vida deixam cicatrizes no corpo
Outros na alma.
Tenho meus tombos
Tenho minhas cicatrizes
As cicatrizes no corpo quase não se vê
As da alma, só eu sei.
E sigo a vida aprendendo a levantar.
Em 07/08/2024:
"O povo com sua ação inaugura o lugar" (PAULO MENDES DA ROCHA, 2002).
Em 13/05/2024:
A memória é a força que une as três instâncias do tempo: o passado, o presente e o futuro.
Em 17.03.24:
A arma mais poderosa não é a que solta fogo, mas, a que desenha o mundo.
Em 08/03/2024:
Mulheres, ....
O que seria de mim sem vocês?
Um nada!
E nem aqui estaria.
Dizem por aí, em vozes vacilantes,
Que vocês são a nossa contraparte.
Mentira!
Vocês são o todo e nós, uma parte.
Seu dia não é hoje,
Mas todos os que foram e serão.
Em 23/02/2024:
De Vitória, descortino por entre às margens de cá,
A obra da Orla de Cariacica.
Projeto nosso, que agora, faz parte da paisagem da Baia de Vitória.
Orgulhoso?
Lógico, pois não me cabe pra esse projeto falsas modéstias.
Fiz-desenhei esse projeto-paisagem tanto pra ser utilizado como visto por todos.
Marco de um lugar retomado e apropriado pela população de Cariacica.
Lugar que extrapola seu território de origem sobre as águas.
Marca de meu tempo aqui, enquanto Arquiteto-Urbanista, orgulhoso do que faz e para quem faz.